sexta-feira, 18 de junho de 2010

Hoje não me apeteceu fazer muito. Depois de madrugar com as galinhas e de pouco dormir, apeteceu-me aproveitar o sol em Lisboa. Sim, porque da praia 19 já ando eu farto. Depois da minha labuta matinal vim ao noobai almoçar, que para variar estava a abarrotar. Entretanto, uma colaboradora concedeu-me um lugar dentro do café enquanto esperava por uma mesa na esplanada. A rapariga que me atendeu, muito gira por sinal, tinha cara de italiana, mas pelo português correcto percebia-se que era mesmo portuguesa e não mais uma daquelas ciganas que por aqui costumam trabalhar. Ciganas porque tenho a sensação que são daquelas pessoas que nunca param muito tempo num país, onde o seu lema de vida é conhecer culturas.

Esta rapariga estava vestida em tons de roxo e lilás a fazer matching com a bata e depois tinha os lábios pintados de rosa, o que lhe ficava super engraçado…Dava-lhe um ar de italiana à contra-cultura.

Entretanto, está aqui um gajo horrível que não tira os olhos de mim enquanto escrevo…. Veio com duas amigas, mas mesmo assim não se manca.

Ai meu Deus… E agora veio-me pedir tabaco, só espero que não tenha lido isto.

Anyway, o que eu ia escrever hoje… Vou escrever sobre as minhas botas. A minha mãe veio passar umas férias comigo para aproveitar o tempo de calor em Portugal. Resultado: andei a esconder toda a minha roupa porque eu sou um pouco consumistas. Para terem noção eu tenho um guarda-roupa embutido na parede do meu quarto que vai duma ponta do meu quarto à outra e está cheiinho de roupa!!! Ainda uma mala de viagem por desfazer e roupa nos guarda-roupas dos outros quartos. Sei que depois de tudo arrumado enchi quatro guarda-roupas com roupa de Verão (e ainda escondi alguma roupa em gavetas espalhadas pelos móveis da casa). Isto porque já sabia que quando a minha mãe visse aquela quantidade de roupa me ia obrigar a dar a roupa que já não uso. Mas a minha roupa tem valor sentimental para mim. Ou a comprei num momento em que estava deprimido, ou usei-a numa ocasião especial ou com alguém especial. Doar roupa para mim é como se tivesse a doar um pulmão ou qualquer coisa do género. É parte de mim. Custa-me imenso. Eu sei que sou um pouco egoísta nesse campo e que há imensas pessoas a passarem frio e mimimi, mas custa-me… Eu é que sei o quanto me dói… E depois sei lá eu se um dia aquela peça de roupa que doei iria ser essencial para algum matching. E as mais antigas, podem sempre voltar a estar na moda. Não dizem que a moda é cíclica???? Uns pequenos ajustes aos trapinhos e voltavam a estar na moda. Sei que depois dos bens “confiscados” pela minha mãe, fiquei 2 guarda-roupas mais pobre (ou com menos uma perna e uma mão). Tudo bem que havia lá blasers que já não se usam a não ser que sejas jogador da bola ou da margem sul. Tinha lá roupa quase do tempo do meu baptismo. Isto tudo para chegar às botas…

Quando me foi confiscar o calçado, confiscou-me umas botas tygon da Adidas (como eu hoje ainda as adoro) ténis, e uns sapatos. Só não levou mais porque eu não deixei. Já tinha escondido alguns pares na garagem. Garagem essa que servia de arrumos para os pintores da casa pois estávamos a pintar a casa e e para eles não entrarem dentro de casa demos-lhes as chave da garagem e eles punham lá as tintas e o resto da tralha.

Qual é o meu espanto quando encontro as minhas queridas botas hunter (galochas) no lixo. Aquelas botas comprei eu no Reino Unido depois de fazer 8 improvisos de patinagem artística no gelo falhados (vulgo quedas no meio da rua com toda a gente a ver). Sabem aquelas quedas em que andamos ali a lutar para não cair, toda a gente ao teu lado vê mas fingem que nem reparam com medo de caírem ao tentarem ajudar-nos? Lembro-me da última como se fosse hoje. Estavam uns sete graus negativos, eu a falar ao telemóvel com o meu namorado, carregado com o saco do ginásio. Fazia aquela descida todos os dias e como já não caía fazia imenso tempo nem estava com meias medidas a ver onde punha as patas. Porque para evitar cair no gelo o melhor é andar em pezinhos de lã. Armado em modelo, lá ia eu todo lançado até que quando dei conta já estava a lutar para não cair rua abaixo com o telemóvel numa mão, a mala no braço oposto… Comecei-me logo a rir porque já sabia que ia cair, mas pedi encarecidamente a todos os santos para não cair em frente da senhora que estava sentada à porta dum café também a falar ao telemóvel. Escusado será dizer que nenhum santo atendeu ao meu pedido e eu fui parar mesmo ao chão em frente à senhora (que entretanto parou de falar ao telemóvel e estava controlar-se para não se rir na minha cara e também à espera para contar o sucedido à pessoa do outro lado da linha). Com isto tudo, a minha mala foi para um lado, parte do meu telemóvel para outro (o resto ficou na minha mão). Ou seja, fui todo fodido e molhado para o meu ginásio com vontade de matar todos que me aparecessem à frente.

E para voltar do ginásio? Tive de fazer escalada, qual puto a subir os Himalaias ou Everest qual quê…. As escadas que eu sempre subia sem problemas estavam congeladas. Os degraus transformaram-se em rampa com tanto gelo calcado, como se um jogo de computador se tratasse. Nunca pensei que isso acontecesse na realidade. Lá tive eu que subir a rampa agarrado ao corrimão como se faz na tropa se não tinha que dar uma volta enorme para continuar o meu trajecto. Só pedia para que ninguém me estivesse a ver... E aí decidi. Porra, vou comprar umas hunter, que se foda o dinheiro ou a estética.

Fui a primeira loja que apanhei que vendiam hunters (a schue, onde só passado três meses é que soube que se lia “shoe”) só para experimentar. Experimentei umas que me ficavam assim meio que apertadas nas perna. Pedi o número acima. Quando fui para trocar as botas, quem é que me as descalçava. Tive 8 minutos para conseguir tirá-las sozinho. Não consegui. Já estava sem casaco e sem sweat de tanto transpirar. Depois de me deixar sofrer bastante, o vendedor lá me perguntou se eu queria ajuda a tirar as botas. Também não conseguiu à primeira e à segunda tentativa parecia que me queria levar as pernas também. Puxou-me as botas com tanta força que foi contra o expositor dos ténis da Fred Perry e derrubou aquela merda toda. Depois desta vergonha toda lá tive eu de encomendar umas hunter navy não fosse o rapaz atirar-me com um fred perry na tola e depois daquele esforço tinha toda a razão. E eu k só ia ver como é k me ficavam.

Mas quando as botas chegaram a casa, foi amor à primeira vista (ou à segunda). Não eram pretas nem azuis, óptimas para usar com tudo e a partir desse dia nunca mais tralhei… Pelos menos por escorregar na neve. Era eu baixa acima, baixa abaixo às compras com as minhas hunters. Até um designer amigo meu estava de olho nelas.

Quando vim para Portugal resolvi trazê-las não fosse chover imenso e eu andar com os pés todos ensopaditos.

Com a Primavera deixei-as na garagem e para meu espanto dou com elas no caixote do lixo de casa. Já alguma vez encontraram um bebé no lixo? Eu também não, mas suponho que o sentimento seria quase o mesmo.

Já com os olhos chorosos de raiva e ter de me calar porque de certeza que aquilo era obra da minha mãe vou ter com ela e pergunto-lhe o que é que as minhas botas estavam a fazer no lixo. Ela muito espantada responde-me “aquelas botas eram tuas? Pensava que eram dos pintores de andarem na pintura sei lá e que deixaram aí porque já estavam boas para ir para o lixo”

Parou tudo!!!!!!!!!!!!!

Conto até vinte para mim mesmo e só perguntei se ela sabia quanto é que custaram aquelas botas de pintor “descartáveis”.

Depois de muito blablabla não tive outro remédio se não tentar limpar as minhas lindas botinhas. Ficaram todas danificadas mas agora não sei se será da tinta ou algum diluente que foi usado na garagem ou se já estavam deterioradas do uso e da neve. Mas se assim o foi, fui enganado porque aquelas botas eram supostas durar uma vida. Mas enfim, já percebi que a única coisa que dura uma vida é só mesmo a vida!!!!

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